A vida mais virtual no Agro
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Um dos hábitos e costumes praticamente unânimes entre os produtores rurais brasileiros, de norte a sul, é a participação em dias de campo e exposições agropecuárias. Ao longo dos anos estes eventos oportunizaram a disseminação de conhecimento, troca de ideias, formação de preços da produção, e mesmo o seu comércio, além do acesso a lançamentos de equipamentos e novos insumos. Entramos na pandemia e estes eventos foram abolidos de nossas rotinas.
A partir das restrições de encontros com aglomeração, neste mundo pós Covid-19, surgiu a necessidade de substituir estes encontros e visitas presenciais. Afinal de contas, as marcas continuam precisando se comunicar e fazer negócios e, de outro lado, agricultores também precisam interagir com seus fornecedores e compradores da sua produção.
As feiras e dias de campo sempre tiveram papel de destaque nesta conexão e, nos últimos anos, tem sido destino de grande parcela do orçamento de marketing das empresas que atuam no Agro.
Neste novo cenário, a digitalização e interações virtuais começaram a aparecer e se multiplicaram rapidamente, na busca de alternativas aos modelos tradicionais, agora inviabilizados pelo distanciamento.
O grande desafio é encontrar formatos que atendam as demandas e expectativas de ambos os lados.
Mesmo que a experiência seja diferente, e certamente o é, o ambiente virtual pode trazer novas ferramentas customizadas à realidade dos produtores. Logicamente não dá para substituir experiência da visita a um estande, escritório ou loja, e a interação pessoal.
O que dizer da emoção de sentar-se na cabine de uma máquina que está nos nossos sonhos de consumo, as amenidades como coquetéis e churrascos, ou o papo olho no olho negociando o preço da soja, do milho ou de seus animais. Tudo isso hoje difícil de replicar no mundo virtual. Não tem jeito!
Apesar das limitações inerentes de uma visita ou negociação virtual, este mundo novo, ainda em desenvolvimento, tem o potencial de oferecer experiências de outra dimensão. É nisso que muitas empresas estão apostando. O interessante é que muitas delas já vinham desenvolvendo plataformas digitais de contato com o mercado, que estavam servindo como apoio na jornada com o cliente, e passam agora a ser o centro de atenção e foco de sua estratégia comercial.
Um bom exemplo de rapidez nesta conversão é o caso da John Deere, player importante do setor de máquinas agrícolas e ativos expositores nas tradicionais feiras e dias de campo. Para atender a demanda de consumidores mais exigentes e conectados, a empresa vinha digitalizando seus catálogos e as ofertas de produtos.
Com a pandemia e a restrição de eventos, rapidamente lançou uma plataforma robusta de interação, o JD Conecta. Neste ambiente, o visitante pode interagir com todo o ecossistema da marca diretamente no seu celular ou computador, e negociar ali mesmo.
Movimento similar também foi trilhado pela Syngenta, outra marca tradicional que também agiu rapidamente e criou seu próprio ambiente virtual. Com conteúdos relacionados ao setor, oferece uma experiência com a marca e interação, aproximando o usuário de suas soluções e oferecendo uma jornada atrativa e inovadora para a melhor utilização de seus produtos.
A verdade é que está todo mundo hoje tentando achar a melhor forma de substituir esses encontros e formatos de comercialização.
Certamente colocar no ar uma página na Internet, com visual e banners de marcas, e alguns botões para falar com o vendedor, não vai ser um grande atrativo. Vamos precisar bem mais que isso para seduzir um público ávido por novidades e soluções efetivas, com ganhos econômicos reais.
A boa notícia é que cada dia aparecem novas plataformas de serviços baseados em soluções digitais que agregam vantagens relevantes. Serviços que utilizam ferramentas inovadoras e até bem pouco tempo inacessíveis como: inteligência artificial, contratos digitais, rastreabilidade e alertas automáticos de ofertas. São atributos que simplificam a negociação, execução e liquidação de compras ou vendas, trazendo segurança e transparência, e menores custos operacionais e transacionais. Reduzem o papel de intermediadores, ampliam o leque de fornecedores ou compradores da produção do Agro, e garantem melhores negócios para os produtores.
A pandemia parece ainda estar longe do fim, e todos torcemos para que isso aconteça logo, mas o aprendizado e a evolução que este episódio nos proporcionou vai deixar um importante legado positivo. A expansão do uso de ferramentas digitais e o desenvolvimento de novas formas de interação e comércio, hoje já disponíveis na tela do computador ou do celular do produtor, certamente embasará a construção de um Agronegócio ainda mais eficiente e lucrativo.
E quando tudo isso passar, voltaremos a nos encontrar, dividir momentos de descontração ao redor de uma roda de churrasco, mas garantidos por melhores negócios feitos em nossas plataformas digitais.
Este artigo foi escrito por Donário Lopes de Almeida
É Engenheiro Agrônomo, Jornalista e Produtor Rural, atuou no setor de genética bovina na liderança da canadense Alta Genetics e da americana ABS Pecplan, foi presidente do Canal Rural, e hoje atua em conselhos de empresas digitais. Um entusiasta do Agronegócio e da tecnologia, vem direcionando seu foco no entendimento e debate sobre as oportunidades de digitalização do Agro, a Agricultura 4.0.